No Caminho da Mata Atlântica: restaurando paisagens e fortalecendo cadeias produtivas locais no Mosaico Central Fluminense (CMA-MCF)
Devido ao seu histórico de degradação, grande diversidade biológica e alto grau de endemismo, a Mata Atlântica é considerada uma prioridade global para a restauração de ecossistemas. No estado do Rio de Janeiro, a região do Mosaico Central Fluminense (MCF) é de enorme relevância para a conservação do bioma, pois abriga áreas protegidas e uma grande parte da população do Rio de Janeiro, assim, as ações de restauração na região têm alto potencial para gerar benefícios ambientais e socioeconômicos.
Durante um pouco mais de dois anos de execução, o projeto “No Caminho da Mata Atlântica (CMA): restaurando paisagens e fortalecendo cadeias produtivas locais no Mosaico Central Fluminense (MCF)” promoveu a recuperação da vegetação nativa e o fortalecimento da cadeia produtiva florestal e do turismo sustentável, conectando Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e atores locais no Mosaico Central Fluminense (MCF).
O Projeto iniciado em janeiro de 2022, teve como objetivos:
- Restaurar 250 hectares de Mata Atlântica para aumentar a conectividade funcional entre remanescentes florestais no corredor extremo norte da Serra do Mar.
- Mobilizar e capacitar atores locais em atividades associadas à recuperação da vegetação nativa, fomentando e fortalecendo as cadeias produtivas de sementes e mudas florestais, ecoturismo e turismo rural.
- Monitorar áreas com ações de restauração e seus entornos por meio de registro de fauna e ferramentas de Ciência Cidadã, contemplando benefícios ecossistêmicos e sociais da restauração e subsidiando pesquisa e desenvolvimento.
Restauração de 250 hectares com espécies nativas da Mata Atlântica
Com foco no corredor extremo norte da Serra do Mar, no Rio de Janeiro, o Projeto, restaurou 250 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica em 12 propriedades privadas, distribuídas em seis municípios.
Para aumentar o custo-efetividade das intervenções, foram priorizadas áreas a serem restauradas onde fosse possível adotar técnicas de baixo custo. Sempre que possível, as ações de restauração foram baseadas na condução da regeneração natural; associada ao enriquecimento ecológico, que consiste no plantio de mudas arbóreas para ampliar a diversidade de espécies nativas.
Conheça as 12 propriedades selecionadas e as principais técnicas de restauração utilizadas em cada local. Clique para acessar as postagens do instagram: Parte 01 e Parte 02.
No total, foram plantadas 224 espécies nativas de árvores da Mata Atlântica. Foram priorizadas aquelas com dispersão zoocórica, ou seja, que se espalham por meio da movimentação de animais, além de espécies consideradas ameaçadas de extinção. Nos 27 meses de Projeto foram plantadas mais de 65 mil mudas oriundas de viveiros da região, fortalecendo a cadeia produtiva da restauração e contribuindo para preservar a diversidade genética local.
Pode-se afirmar que a atividade foi finalizada com sucesso, pois além das ações propostas terem sido realizadas dentro do período de execução e financiamento do projeto, os resultados do monitoramento indicaram um desempenho satisfatório em todas as áreas trabalhadas.
Engajamento e fortalecimento de redes locais
O Projeto CMA-MCF realizou ações voltadas para mobilização e capacitação de atores locais em atividades associadas à recuperação da vegetação nativa. Essas ações visam fomentar e fortalecer as cadeias produtivas de sementes e mudas florestais, o ecoturismo e o turismo rural. O projeto realizou junto às instituições parceiras 20 eventos com mais de 500 participantes, incluindo:
🚀 O lançamento oficial do Projeto – virtual;
👁️ 4 oficinas virtuais sobre monitoramento de fauna e ciência cidadã, utilizando o aplicativo do Sistema de Informação em Saúde Silvestre – SISS-Geo, da Fiocruz.
😊 Capacitação virtual sobre recuperação da vegetação nativa – composta por 6 encontros;
🌳 4 oficinas presenciais sobre restauração florestal;
🌱3 oficinas presenciais sobre produção de mudas nativas;
📍4 oficinas presenciais sobre planejamento e fortalecimento de roteiros turísticos associados ao CMA;
🚶♂️ 2 oficinas práticas de guia de caminhada;
🏨 1 oficina virtual sobre receptivo turístico;
🎉 1 evento de finalização – presencial na sede do IIS.
A partir das oficinas de turismo foram mapeados mais de 250 atrativos e 95 atores que trabalham com turismo sustentável na região, sendo que 10 destes se tornaram parceiros oficiais do CMA. Esses esforços resultaram na criação de 3 novos roteiros associados ao CMA, já divulgados no website.
As atividades reuniram um público diverso, incluindo produtores e proprietários rurais, viveiristas, gestores de UCs e guardas-parque, pesquisadores, estudantes, montanhistas, guias locais, representantes de prefeituras e órgãos estaduais vinculados ao meio ambiente, turismo, agricultura e extensão rural.
Monitoramento da fauna
Foram instaladas um total de 53 armadilhas fotográficas nas 12 propriedades parceiras em áreas de restauração implementadas pelo próprio Projeto.
Ao longo de 19 meses (6.917 armadilhas x noites) foram registradas 29 espécies de mamíferos nas áreas de restauração do projeto, sendo 25 espécies nativas da Mata Atlântica e quatro espécies exóticas/domesticadas, incluindo uma família de antas com um filhote (Tapirus terrestris), uma espécie reintroduzida pelo Projeto Refauna. Destacamos também, algumas espécies ameaçadas de extinção que foram filmadas pelas armadilhas fotográficas:
Callithrix aurita – sagui-da-serra-escuro ou sagui-caveirinha – Em perigo (EN)
Herpailurus yagouaroundi – Jaguarundi, gato-mourisco Vulnerável (VU)
Leopardus guttulus – Gato-do-mato – Vulnerável (VU)
Leopardus wiedii – Gato-maracajá – Vulnerável (VU)
Tapirus terrestris – Anta – Vulnerável (VU)
O monitoramento da fauna permitiu compreender melhor quais espécies estão circulando pelas áreas em restauração e os registros demonstraram sua importância e potencial para avaliação da efetividade da restauração e da conectividade funcional nos fragmentos florestais dessas paisagens.
No dia 26 de janeiro de 2024 foi realizada na sede do IIS , uma oficina técnica com o objetivo de elencar e priorizar indicadores de fauna, para que este componente da biodiversidade também seja considerado no monitoramento da restauração. Para isso, foram reunidos 28 especialistas em monitoramento da fauna e/ou restauração. Os resultados desta oficina sairão em uma publicação, de forma a reforçar a importância dessa abordagem aos tomadores de decisões dos setores público e privado e organizações da sociedade civil envolvidas como temática da restauração.
Por fim, no dia 27 de março, tivemos o evento de encerramento do Projeto CMA-MCF, que ocorreu na sede do IIS com a presença da equipe executora, diretores do IIS, colaboradores e proprietários parceiros do projeto. Na ocasião, foram apresentados os principais resultados alcançados ao longo da execução do projeto, sendo oferecido um coffee break preparado com alimentos da propriedade parceira Fazenda dos Cordeiros.
Ao longo de dois anos, o projeto foi executado pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), e pelo Caminho da Mata Atlântica (CMA); o projeto é uma parceria com o Laboratório de Vertebrados do Instituto de Biologia da UFRJ (LabVert); a Fiocruz, por meio do Sistema de Informação em Saúde Silvestre (SISS-Geo); a Agroicone, no âmbito do projeto SiAMA (Sistemas Agroflorestais na Mata Atlântica); a Embrapa Agrobiologia e a Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA).
O Caminho da Mata Atlântica, iniciativa voluntária de muitos parceiros, contribuiu na parte de monitoramento de fauna, mapeamento da cadeia produtiva do turismo, elaboração de roteiros turísticos e contatos com UCs locais.
O Laboratório de Vertebrados do Instituto de Biologia da UFRJ (LabVert), foi responsável pela coordenação do Objetivo Específico relacionado ao monitoramento das áreas com ações de restauração.
A Fiocruz foi parceira do projeto nas ações de monitoramento participativo da biodiversidade, usando o Sistema de Informação em Saúde Silvestre – SISS-Geo. Essa plataforma armazena e disponibiliza todas as informações sobre registros de ocorrência de animais silvestres fornecidos por parceiros e voluntários. Além de permitir o monitoramento de eventuais riscos à saúde, a plataforma permitiu uma avaliação do estado de conservação da fauna ao longo do Caminho da Mata Atlântica.
A Agroicone foi parceira nas atividades de capacitação e mobilização e contribuirá com a produção de materiais e organização das atividades de capacitação, além de compartilhar das experiências e materiais produzidos pela Agroicone e instituições parceira no âmbito do projeto SiAMA (Sistemas Agroflorestais na Mata Atlântica).
A Embrapa Agrobiologia, por meio de dois pesquisadores do seu corpo técnico, contribuiu na capacitação do público alvo nas temáticas relacionadas à produção de sementes e mudas de espécies florestais, legislação e recuperação de áreas degradadas. Também auxiliou no planejamento da implantação e manutenção dos projetos de recuperação das áreas degradadas e na orientação aos viveiristas na produção de mudas de qualidade.
A Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA) contribuiu para os objetivos do projeto relacionados às atividades de reflorestamento e monitoramento, além de disponibilizar espaço para os encontros periódicos.
Com verba de 2,8 milhões de reais, a iniciativa foi desenvolvida com apoio do Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica, um projeto do governo brasileiro, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, no âmbito da Iniciativa Internacional de Proteção ao Clima (IKI) do Ministério do Meio Ambiente, Proteção da Natureza, Construção e Segurança Nuclear da Alemanha (BMUB), com apoio financeiro através do KfW Entwicklungsbank (Banco Alemão de Desenvolvimento), por intermédio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO.