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09.11.17

Sucesso da restauração ecológica é maior para regeneração natural do que para restauração ativa em florestas tropicais

A restauração de áreas florestais desmatadas e degradadas pode ser realizada através de uma ampla gama de atividades. De um lado do espectro estão as intervenções de restauração ativa, como o plantio de mudas, enquanto no outro extremo estão intervenções mais passivas, como a regeneração natural espontânea ou assistida.

Embora as intervenções ativas sejam geralmente favorecidas por profissionais e formuladores de políticas, a regeneração natural mostrou ser a abordagem mais econômica para recuperar a biodiversidade, processos ecológicos e serviços ecossistêmicos em condições ecológicas favoráveis. A maior parte dessa evidência é impulsionada pelo custo substancialmente menor de regeneração natural em relação à restauração ativa. Até o momento não haviam sido feitas comparações robustas dos benefícios ecológicos resultantes de ações de restauração ativa e de regeneração natural para regiões de florestas tropicais. E é justamente nas florestas tropicais onde são necessários esforços de restauração em larga escala para garantir a prestação de serviços ecossistêmicos e proteger a biodiversidade.

No artigo “O sucesso da restauração ecológica é maior para a regeneração natural do que para a restauração ativa em florestas tropicais”, publicado em 8 de novembro na Science Advances, Renato Crouzeilles, pesquisador do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS), e colaboradores fizeram a pergunta crítica: Seria a regeneração natural a abordagem mais benéfica para alcançar o sucesso da restauração da floresta tropical em termos de biodiversidade e estrutura da vegetação?

Para preencher essa lacuna de conhecimento, Crouzeilles e colaboradores realizaram uma meta-análise global do conjunto de dados mais abrangente reunido até o momento sobre o sucesso da restauração da floresta tropical, que abrange 133 estudos primários espalhados por 115 paisagens de estudo e contendo 1.728 comparações quantitativas entre ecossistema de referência (por exemplo, florestas maduras) e sistemas restaurados.

Como o sucesso da restauração florestal é influenciado por muitos fatores de confusão, a análise foi controlada para quatro fatores-chave que influenciam a recuperação da biodiversidade e da estrutura da vegetação: quantidade da floresta, precipitação, tempo decorrido desde o início da restauração e distúrbios passados.

“A restauração pode não atingir um sucesso completo, mas a biodiversidade e a estrutura da vegetação foram de 34-56% e 19-56% maiores em áreas de regeneração natural do que em sistemas de restauração ativa, respectivamente, mas somente depois de controlar esses quatro fatores-chave. Esses resultados sugerem que abordagens de menor custo podem ser mais eficazes do que a restauração ativa para restaurar a biodiversidade e a estrutura da vegetação em florestas tropicais” diz Crouzeilles.

“Nosso estudo desafia a noção generalizada de que as florestas de regeneração natural têm um baixo valor de conservação e que as estratégias de restauração devem favorecer preferencialmente a restauração ativa. Essa noção equivocada pode ter surgido devido à falta de controle sobre os fatores bióticos e abióticos que influenciam a restauração florestal, além do curto prazo de monitoramento das ações de restauração”.

Crouzeilles adverte que “o nosso estudo não afirma que a regeneração natural é sempre a abordagem mais custo-efetiva de restauração. Quando as condições não são adequadas para a regeneração natural ou quando são necessárias espécies arbóreas específicas, recomenda-se o plantio de árvores. Além disso, as respostas da biodiversidade consideradas foram baseadas principalmente em dados de abundância e riqueza de espécies, que se recuperam muito mais rapidamente do que a composição das espécies”.

“Alinhar os padrões de condições biofísicas e ecológicas identificados em que cada uma das abordagens (ou ambas) é mais bem sucedida, econômica e compatível com incentivos socioeconômicos é uma das principais prioridades políticas internacionais e nacionais para os próximos anos para dar escala à restauração florestal. Claramente, ambas as abordagens são urgentemente necessárias para alcançar os ambiciosos objetivos globais de restauração florestal”.

Entre os principais resultados deste estudo:

• O sucesso da restauração foi entre 7-39% e 7-51% menor em áreas de regeneração natural ou de restauração ativa do que em sistemas de referência para biodiversidade e estrutura de vegetação, respectivamente.

• No entanto, o sucesso da restauração foi entre 34-56% e 19-56% maior nas áreas de regeneração natural do que nos sistemas de restauração ativa para a biodiversidade e a estrutura da vegetação, respectivamente, após o controle de fatores bióticos e abióticos chaves (quantidade da floresta, precipitação, tempo decorrido desde o início da restauração e distúrbios   passados).

• Os fatores bióticos e abióticos devem ser controlados ao comparar as abordagens de restauração para evitar resultados enganosos.

Crouzeilles diz que seus resultados não devem ser aplicadas de forma acrítica. “Haverão áreas onde não há potencial de regeneração natural e onde a restauração ativa é a única abordagem adequada. Além disso, misturar as abordagens de restauração pode ser a chave para alcançar uma maior riqueza de espécies”.

Um fator que não foi controlado neste estudo foi o contexto socioeconômico onde a regeneração natural ocorreu. “Fatores socioeconômicos alinhados com fatores bióticos e abióticos determinam onde a regeneração natural ocorre”.

“A restauração de paisagens florestais em larga escala só será alcançada se a custo-efetividade das abordagens for identificada espacialmente e a concorrência com os usos agrícolas da terra for minimizada”.

 

Para informações adicionais: Renato Crouzeilles – r.crouzeilles@iis-rio.org

 

Para ler o artigo na íntegra ir em http://www.iis-rio.org/publicacoes ou http://advances.sciencemag.org/content/3/11/e1701345