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24.10.24

O que esperar desta edição da COP da Biodiversidade

Colômbia recebe 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade, cuja missão é reverter perda da natureza até 2030. Em meio a interesses conflitantes, Brasil ainda corre para finalizar plano nacional próprio.

 

 

Em Cali, líderes globais debatem como tirar do papel acordo assinado em 2022 que estabelece metas para reverter perda da biodiversidade; países precisam apresentar seus próprios planos de ação

A 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16) desembarca numa América do Sul abalada pela crise ambiental. A Colômbia, país-sede da reunião, atravessa uma severa seca e a capital, Bogotá, raciona água pela primeira vez. Incêndios também devastam florestas no Brasil, Bolívia, Equador, Peru, Paraguai.

É sob esse clima que Cali, cidade anfitriã, recepciona representantes do alto escalão de praticamente todos os países. Eles passarão as duas próximas semanas negociando como salvar as demais espécies – muitas sob risco de extinção por causa do modo de vida dos seres humanos. A principal meta é definir como o acordo assinado na última COP, em 2022, batizado de Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, sairá do papel.

O ponto de partida são as promessas feitas por cada país para reverter a perda da biodiversidade. Elas devem ser apresentadas num documento intitulado “Estratégia e Planos de Ação Nacional de Biodiversidade” (Nbsap, na sigla em inglês). Até o início da conferência, nesta segunda-feira (21/10), apenas 33 nações haviam cumprido esta etapa – e o Brasil não é um deles.

Especialistas que acompanham a discussão dizem não ter dúvidas de que o país entregará um plano. Mas o atraso decepciona, avalia Michel Santos, gerente de Políticas Públicas do WWF-Brasil.

“É frustrante que o Brasil ainda não tenha apresentado sua Nbsap a tempo da COP16 especialmente considerando o papel crítico que o país desempenha na conservação da biodiversidade global”, diz Santos. “Não ter a Nbsap pronta pode sinalizar uma falta de priorização ou até mesmo de desafios internos na implementação dessas políticas”, justifica.

Com cinco biomas diferentes e a maior extensão de floresta tropical do globo, Brasil é considerado o dono da maior biodiversidade do planeta; na foto, um boto cor de rosa, animal encontrado nos rios da região amazônica

Debate com ambientalistas e empresariado

Rafael Loyola, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e diretor executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS), acompanha os debates no MMA. “A elaboração da Nbsap é um processo e nos últimos dois anos o ministério o vem conduzindo de forma coordenada e participativa”, diz à DW.

O setor empresarial também se sente representado. “Ao longo do último ano, nós engajamos as empresas para construírem recomendações da estratégia, entendendo que a participação do setor é fundamental para a sua efetividade”, afirma à DW Juliana Lopes, diretora de natureza e sociedade do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), que vai à COP16 com uma delegação de 43 empresas.

O tempo é curto. O Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal estipula 23 metas que devem ser alcançadas nos próximos seis anos, em 2030. Dentre as principais estão a proteção de 30% das áreas terrestres e marítimas do mundo, a redução de subsídios para atividades que degradam a vida selvagem e a restauração de ecossistemas.

“É preciso lembrar que o Brasil tem suas particularidades também. Além de ser megadiverso, é um país de dimensão continental, com grandes diferenças regionais. Portanto, fazer um plano neste contexto é complexo”, argumenta Mesquita, do MMA.

Interesses conflitantes no Brasil

Se, por um lado, a biodiversidade brasileira coloca o país num papel de liderança na discussão internacional, o cenário em casa pode limitar algumas ações. A expansão de muitas atividades da economia, como a agropecuária, muitas vezes é feita às custas da natureza. É do Cerrado, por exemplo, bioma mais desmatado em 2023, que sai a maior safra de soja para o exterior.

“A implementação de políticas ambientais muitas vezes esbarra em interesses conflitantes, como a pressão por expansão agrícola e atividades de mineração, que podem levar ao desmatamento, conversão de habitats naturais e à degradação dos ecossistemas”, pontua Michel Santos, do WWF, mencionando ainda a falta de dinheiro e de pessoal técnico para apoiar ações de conservação e recuperação da biodiversidade.

Outro desafio, diz Rafael Loyola, do IIS, é lidar com questões antagônicas à agenda de conservação. “Criar todo um arcabouço de proteção e restauração e explorar petróleo na margem equatorial da Amazônia gera um contrassenso e aumenta a pressão externa sobre o país”, cita como exemplo. “Por questões desta natureza, os efeitos das mudanças climáticas intensificam-se e atuam sinergicamente com incêndios, aumentando a vulnerabilidade ambiental no país como um todo”, complementa.