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14.06.23
No caminho da restauração: projeto integra restauração florestal e turismo para promover a conservação e o uso sustentável na Mata Atlântica
Iniciativa reúne proprietários rurais, produtores de mudas, caminhantes, pesquisadores e a população local para plantar espécies nativas ameaçadas de extinção, promover o monitoramento da fauna e o turismo sustentável no estado do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, RJ, junho de 2023. O Caminho da Mata Atlântica (CMA) é uma iniciativa de conservação que tem como eixo central uma trilha de longo curso (TLC) com mais de 4.000km de extensão que percorre toda a Serra do Mar e parte da Serra Geral, do Parque Estadual do Desengano, no Rio de Janeiro, ao Parque Nacional dos Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul. As TLCs têm sido mundialmente reconhecidas como importantes ferramentas de conservação da biodiversidade e dos ecossistemas. Mais do que uma trilha, o CMA integra o montanhismo e o ecoturismo, conectando mais de 130 unidades de conservação (UCs) para promover desenvolvimento local e conservação das mais de 20 mil espécies únicas de vertebrados e plantas que vivem nesse bioma.
Neste contexto, visando promover a recuperação da vegetação nativa, o fortalecimento da cadeia produtiva florestal e do turismo sustentável, o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) se uniu ao CMA para, juntos a diversos outros parceiros, implementar o Projeto “No Caminho da Mata Atlântica: restaurando paisagens e fortalecendo cadeias produtivas locais no Mosaico Central Fluminense” (Projeto CMA-MCF).
Com foco no corredor extremo norte da Serra do Mar, no Rio de Janeiro, o Projeto, que teve início em janeiro de 2022, está restaurando 250 hectares (ha) de vegetação nativa da Mata Atlântica em 12 propriedades privadas, a maioria contendo Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) distribuídas em seis municípios (figura 1).
Ao associar o turismo à restauração florestal, o Projeto divulga a importância da Mata Atlântica e o engajamento de proprietárias(os) e parceiras(os) locais na conservação de um dos biomas mais ameaçados do mundo. As(os) proprietárias(os) que adotam práticas sustentáveis podem se beneficiar do turismo promovido pela trilha, diversificando sua renda por meio da oferta de serviços de apoio para as(os) trilheiras(os), como hospedagem e alimentação.
Restauração de 250 hectares com espécies nativas da Mata Atlântica
As áreas que estão sendo restauradas pelo Projeto foram selecionadas a partir de um planejamento espacial multicritério, priorizando locais em que fosse possível adotar técnicas de baixo custo para aumentar o custo-efetividade das intervenções. Sempre que possível, as ações de restauração são baseadas na condução da regeneração natural (a partir de técnicas como o cercamento da área para eliminar a ação de fatores externos, como espécies exóticas e o pisoteamento do gado); associada ao enriquecimento ecológico, que consiste no plantio de mudas arbóreas para ampliar a diversidade de espécies nativas. Ou seja, foram escolhidas áreas com alto potencial de regeneração natural, onde a mata poderá ser recuperada com intervenções mínimas. De toda forma, ações de manejo e plantio são necessárias para que a floresta volte em áreas onde o isolamento não é suficiente (figura 2).
As ações de restauração nas propriedades foram iniciadas a partir de um diagnóstico local e do diálogo com os proprietários. Foi então elaborado um Projeto Executivo de Restauração Ecológica para cada propriedade, descrevendo as técnicas e as espécies selecionadas. No total, estão sendo plantadas 224 espécies nativas de árvores da Mata Atlântica. Foram priorizadas aquelas com dispersão zoocórica, ou seja, que se espalham por meio da movimentação de animais, além de espécies consideradas ameaçadas de extinção. No primeiro ano do Projeto foram adquiridas mais de 63 mil mudas oriundas de sete viveiros da região, fortalecendo a cadeia produtiva da restauração e contribuindo para preservar a diversidade genética local (figura 3).
Engajamento e fortalecimento de redes locais
O Projeto CMA-MCF também tem realizado ações voltadas para mobilização e capacitação de atores locais em atividades associadas à recuperação da vegetação nativa. Essas ações visam fomentar e fortalecer as cadeias produtivas de sementes e mudas florestais, o ecoturismo e o turismo rural.
Até o momento, foram realizadas junto às instituições parceiras 15 eventos com mais de 300 participantes, incluindo:
- o lançamento oficial do Projeto;
- uma capacitação virtual sobre recuperação da vegetação nativa;
- oficinas presenciais sobre planejamento e fortalecimento de roteiros turísticos (onde foram mapeados mais de 250 atrativos turísticos);
- oficinas presenciais sobre restauração florestal; e
- oficinas virtuais sobre monitoramento de fauna e ciência cidadã, utilizando o aplicativo do Sistema de Informação em Saúde Silvestre – SISS-Geo, da Fiocruz.
As atividades reuniram um público diverso, incluindo produtores e proprietários rurais, viveiristas, gestores de UCs e guardas-parque, pesquisadores, estudantes, montanhistas, guias locais, representantes de prefeituras e órgãos estaduais vinculados ao meio ambiente, turismo, agricultura e extensão rural (figuras 4 e 5).
Monitoramento da fauna
A fauna é considerada fundamental no funcionamento das florestas e, por isso, deve ser considerada no processo de restauração de uma área, em especial pela importância do seu papel na dispersão das sementes e fertilização do solo. Por isso, além do plantio de espécies que fornecem alimentos para os animais nativos, o Projeto está realizando o monitoramento da fauna nas áreas em restauração, para compreender melhor quais espécies estão circulando por essas áreas.
O monitoramento, com foco em mamíferos de médio e grande porte, foi iniciado em 2022 por meio de 16 armadilhas fotográficas instaladas em três áreas restauradas entre 2005 e 2019 e em uma região de floresta madura na Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA). Em quatro meses foram observadas 17 espécies de mamíferos nativos, incluindo uma família de antas com um filhote (Tapirus terrestris), uma espécie reintroduzida pelo Projeto Refauna (figura 6). Em 2023 foi iniciado o monitoramento da fauna nas áreas em restauração implementadas pelo próprio Projeto, com a instalação de 53 armadilhas fotográficas.
Os registros realizados até o momento demonstram a importância deste monitoramento e seu potencial para avaliação da efetividade da restauração e da conectividade funcional nos fragmentos florestais dessas paisagens. O Projeto espera que muitas outras antas, onças-pardas, cutias, muriquis, micos-leões-dourados, macucos, jacus e outros animais nativos sejam vistos usufruindo das áreas recém restauradas.
O Projeto CMA-MCF está sendo desenvolvido com apoio do Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica, um projeto do governo brasileiro, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, no âmbito da Iniciativa Internacional de Proteção ao Clima (IKI) do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Proteção da Natureza, Construção e Segurança Nuclear da Alemanha (BMUB), com apoio financeiro através do KfW Entwicklungsbank (Banco Alemão de Desenvolvimento), por intermédio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO, com financiamento de R$2.8 milhões. São parceiros: o Laboratório de Vertebrados do Instituto de Biologia da UFRJ (LabVert), a Fiocruz, a Agroicone, a Embrapa Agrobiologia e a Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA).
Sobre os executores do Projeto
Fundado em 2009 no Rio de Janeiro, o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) é um think-and-do-tank independente voltado à compreensão da relação entre o ser humano e demais elementos da natureza. O Instituto desenvolve pesquisas, capacitações e ferramentas para promover o uso sustentável da terra, em particular a conservação da biodiversidade, provisão de serviços ecossistêmicos, manejo sustentável do solo, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e desenvolvimento socioeconômico das pessoas envolvidas nesses processos. Na região de interesse desse Projeto, o IIS desenvolveu o estudo “Análise Econômica da Cadeia Produtiva da Recuperação da Vegetação Nativa na Região do Mosaico de Unidades de Conservação da Mata Atlântica Central Fluminense”, que incentiva a recuperação da vegetação com base econômica, contribuindo para a implementação de políticas públicas, de negócios e do desenvolvimento regional sustentável.
O Caminho da Mata Atlântica (CMA) é uma iniciativa de conservação em torno da implantação de uma TLC entre os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Promovida por diversos parceiros, como federações de montanhismo, órgãos gestores de unidades de conservação, ONGs, instituições de pesquisa e prefeituras locais, a iniciativa pretende engajar a sociedade na conservação e recuperação da Mata Atlântica por meio de atividades ao ar livre e da conexão de áreas naturai, promovendo o desenvolvimento socioeconômico inclusivo e a valorização do patrimônio natural e cultural.
Temas Relacionados
Parceiros Citados
- Agroicone
- Banco Alemão de Desenvolvimento
- Caminho da Mata Atlântica (CMA)
- Embrapa Agrobiologia
- Federal Ministry for the Environment, Nature Conservation and Nuclear Safety of Federal Republic of Germany
- Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
- Fundo Brasileiro para Biodiversidade (FUNBIO)
- Laboratório de Vertebrados do Instituto de Biologia da UFRJ (LabVert)
- Ministério do Meio Ambiente - Governo Federal (MMA)
- Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA)