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24.03.21

Aumento do desmatamento coloca a Amazônia em risco de se tornar um hotspot de vírus

A Floresta Amazônica corre um risco crescente de se tornar um hotspot – ponto de foco – de Doenças Infecciosas Emergentes (EID) devido às taxas crescentes de desmatamento, revela uma análise divulgada hoje pela ONG Conservação Internacional.

O estudo, “Poderia uma futura pandemia vir da Amazônia ?, pede uma ação urgente para diminuir as chances de que outro vírus causador da pandemia possa ser transferido da vida selvagem para os humanos e emergir da maior floresta tropical do mundo.

O estudo e a modelagem foram conduzidos por Mariana Vale da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pablo Marquet da Pontifícia Universidade Católica do Chile, com coautoria de Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, diretor técnico do IIS, e cientistas de outras instituições.

O desmatamento torna mais provável o contato entre humanos e a alta concentração de mamíferos portadores de vírus na Amazônia, como morcegos, por exemplo. O risco crescente de “transbordamento” do vírus da vida selvagem para os humanos torna a região, que inclui nove países sul-americanos, uma prioridade de conservação se quisermos evitar outra pandemia global em nossas vidas.

Usando um novo modelo projetado para medir o risco de pandemia associado a uma série de tendências de desenvolvimento e desmatamento, o documento destaca o fato de que mesmo uma pequena quantidade de desmatamento – especialmente se ocorrer em áreas intactas anteriormente não perturbadas – pode ter um impacto desproporcional sobre o chances de um vírus zoonótico surgir.

“O aumento do desmatamento na Amazônia brasileira nos últimos anos aumenta a probabilidade de uma nova pandemia surgindo na região. A terrível situação em que se encontra a região com a COVID-19 mostra o quão despreparados estamos, no momento, para lidar com o surgimento de novas doenças infecciosas ”, disse Vale.

Quando uma área intocada atinge apenas 20% do desmatamento, a chance de um vírus chegar aos humanos atinge seu pico – o que significa que mesmo um nível bastante baixo de desmatamento aumenta o risco de disseminação do vírus. Algumas regiões da Amazônia que já estão sofrendo desmatamento têm menos de 40% de sua cobertura florestal original e já correm o risco de se tornar um hotspot de EID. Por outro lado, áreas com baixas taxas de perda de cobertura florestal (menos de 20%) terão um número menor de cenários de transbordamento médio.

O artigo mostra que investir na prevenção do desmatamento e manter um equilíbrio saudável entre desenvolvimento e conservação na Amazônia custaria uma pequena fração do dano econômico potencial de outra futura pandemia. O investimento também proporcionaria benefícios adicionais de proteção da saúde humana, redução da mudança climática e apoio ao reconhecimento dos povos indígenas e de suas terras.

Duas coisas importantes e abrangentes devem acontecer para ajudar a prevenir a próxima pandemia em sua origem – parar o desmatamento e aumentar as iniciativas de saúde da comunidade que podem mudar positivamente a maneira como as pessoas interagem com a natureza.

As principais soluções do papel incluem:

  • Restabelecimento de  políticas públicas antidesmatamento robustas no Brasil e em outros países amazônicos. Por exemplo, em 2004 foi lançado o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal. Este conjunto de políticas levou a uma dedução de 70 por cento do desmatamento entre 2005 e 2012. Restabelecer um esforço semelhante poderia ter grandes retornos para a natureza e a saúde humana.
  • Respeitar as terras indígenas e os direitos fundiários. Terras indígenas são historicamente menos vulneráveis ​​à destruição. O reconhecimento do papel importante e do conhecimento tradicional dos povos indígenas apoiará os esforços globais de conservação das florestas.
  • Incentivar a cooperação global para prevenir pandemias, impedindo a propagação de vírus de animais para pessoas. A prevenção de futuras pandemias em sua origem precisa ser um esforço colaborativo com todos contribuindo para a preservação da natureza. Os investimentos proativos hoje custarão menos trilhões à comunidade global em comparação com uma resposta reativa posterior.

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