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05.06.23
Cientistas, empresas e voluntários se unem para ‘costurar retalhos’ da Mata Atlântica
A Regua é uma das 12 áreas incluídas no projeto No Caminho da Mata Atlântica: Restaurando Paisagens e Fortalecendo Cadeias Produtivas Locais no Mosaico Central Fluminense, que restaura 250 hectares em Cachoeiras de Macacu, Macaé, Nova Friburgo, Silva Jardim, Santa Maria Madalena e Trajano de Moraes.
O projeto é implementado pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) e pelo Caminho da Mata Atlântica (CMA). Enquanto o primeiro desenvolve estudos e instrumentos de restauração, o segundo começou como trilha de longo curso e hoje é iniciativa com foco em reconectar áreas naturais, para pessoas, plantas e animais, numa faixa de quatro mil quilômetros entre o Estado do Rio e o Rio Grande do Sul. No total, serão plantadas 63 mil mudas de 224 espécies nativas As mudas vêm de viveiros da região.
— É preciso restaurar não apenas o ambiente, mas a relação das pessoas com a natureza — afirma o biólogo André Lanna, do CMA, e especialista em fauna.
O programa integra outro maior. Trata-se do Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica, financiado pelo Banco de Desenvolvimento da Alemanha, com coordenação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e gestão do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). A iniciativa atua na Bahia, no Paraná, no Rio e em São Paulo, com R$ 28 milhões para restaurar 3.092 hectares em 2023.
— É a maior iniciativa de restauração da Mata Atlântica em curso no Brasil. Abrange toda a cadeia da restauração, de projeto técnico com base em ciência à coleta de sementes e ao plantio, passando por mobilização e capacitação. A ideia é plantar uma semente para a recuperação do bioma mais devastado do Brasil — afirma o gerente geral do projeto, Rodolfo Cabral, do Funbio.
Também no Estado do Rio, a restauração é o objeto do recém-lançado edital do Programa Florestas do Amanhã. Gerido pelo Funbio, o programa destinará R$ 25 milhões a projetos em ltaboraí, Tanguá, Guapimirim, Magé, Cachoeiras de Macacu, Niterói, São Gonçalo, Maricá e Rio Bonito. Os recursos são parte do Fundo da Mata Atlântica do Estado do Rio. Desde 2009, o fundo já captou R$ 400 milhões, oriundos de pagamentos de compensação ambiental.
Projetos assim são as primeiras ações para recuperar parte do bioma onde o Brasil se desenvolveu e em cujo domínio vivem 72% de seus habitantes. O diretor executivo do IIS, Rafael Loyola, destaca que, só para cumprir o Código Florestal e recuperar áreas de preservação permanente e reservas legais, 4,74 milhões de hectares precisam ser restaurados na Mata Atlântica.
Pelas contas dos cientistas do IIS, a soma é de R$ 62 bilhões, ao longo de 20 anos. Os custos variam de R$ 600 a R$ 20 mil por hectare, dependendo de técnica, localização e estado de degradação.
— Parece muito, mas o orçamento do Ministério da Defesa, só em 2022, foi de R$ 116 bilhões. Investir em restauração é reduzir o risco de desastres, evitar crises hídricas, amenizar a temperatura e combater a extinção — diz Loyola.
Restaurar gera empregos, ressalta Ricardo Rodrigues, um dos cofundadores da re-green, empresa especializada em restauração ecológica, e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (USP). Cálculos do grupo de Rodrigues mostram que a restauração gera 0,42 emprego direto por hectare.
— Como o Brasil tem, no mínimo, 12 milhões de hectares para restaurar para atender o Código Florestal, seriam criados de três milhões a quatro milhões de empregos — diz Rodrigues, cientista com o maior histórico de restauração de florestas nativas brasileiras (mais de 25 mil hectares).
Matéria publicada no O GLOBO em 05 de junho de 2023.
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Parceiros Citados
- Agroicone
- Caminho da Mata Atlântica (CMA)
- Embrapa Agrobiologia
- Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
- Fundo Brasileiro para Biodiversidade (FUNBIO)
- Laboratório de Vertebrados do Instituto de Biologia da UFRJ (LabVert)
- Ministério do Meio Ambiente - Governo Federal (MMA)
- Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA)